domingo, 29 de novembro de 2009

NOITES DE TORMENTA FOI UM TORMENTO!



Gente, eu estou indignada! O filme Noites de Tormenta está me atormentando. Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário. É ótimo! Lindo, sensível, fala de coisas bonitas do ser humano. Trata da capacidade que o ser humano tem de se salvar quando salva o outro. Fala da necessidade que temos de generosidade e de como nos libertamos quando somos solidários. O problema é que ele também nos joga a realidade na cara sem piedade. Nos mostra a fragilidade da vida.
Era pra ser um filme perfeito. Richard Gere é perfeito. Diane Lane é quase. A casa da praia é o refúgio sonhado por mim nos últimos tempos. Mas, imaginem:
Sábado à noite. Você se prepara para uma noite bem agradável. Jantar muito bom, vinho estupendo, a melhor compania do momento. A conversa é boa, os planos pro próximo ano estão em pauta. Para fechar com chave de ouro, nada como um bom filme, sensível e delicado.
Mais vinho, velas acesas (não é só jantar a luz de velas que é bom, filme também). A película começa.
Tudo indica que teremos um final feliz e poderemos dormir em paz. De repente, tudo muda e o desfecho tão esperado se transforma em um chute no estômago, um aperto no coração e lágrimas. A gente fica frente a frente com a terrível verdade de que a vida nos reserva muitas mágoas. De que o bom mesmo é a gente viver um dia de cada vez e ser feliz ao máximo enquanto podemos. Nada de aceitar a mediocridade.
Diante disso tudo, só nos resta acabar com a garrafa de vinho em introspecção, dar boa noite e ir dormir.
Acho que outro dia eu vou assistir o filme de novo. No momento, estou tentando digerir...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Achei no blog Nerds somos Nozes os novos posters do filme Alice no Pais das Maravilhas de Tim Burton. Claro que estão no filme Johnny Depp e Helena Bonham Carter, esposa do diretor.

Na versão de Burton, Alice está com 17 anos e, ao saber que seria pedida em casamento em um daqueles eventos sociais chatíssimos, foge com o coelho branco para o país das maravilhas.

O filme estréia em 2010 e eu não vejo a hora de me sentar no cinema com um pacotão de pipoca e apreciar. Vejamos os posters:





domingo, 15 de novembro de 2009

O BELO DA SEMANA - NERUDA

Neruda é sempre uma inspiração.




O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

domingo, 1 de novembro de 2009

O BELO A SEMANA

O texto da Marina Colassanti é uma boa inspiração pra gente pensar como anda nossa postura diante da vida...


EU SEI, MAS NÃO DEVIA


Marina Colassanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.