terça-feira, 22 de julho de 2008

Juiz de Fora e as Greves Ocorridas entre 1912 e 1924

Juiz de Fora, que desde a criação da União - Industria, tornou-se o principal centro sócio-econômico da Zona da Mata, exercendo um papel de catalisadora de recursos e veio a ser o principal centro industrial de Minas Gerais nas primeiras décadas do século XX, foi palco de uma importante luta de classes no período delimitado, quando eclodiram três greves de caráter generalizado, além de outras manifestações que afetaram apenas um setor fabril ou uma determinada categoria.
Já em 1905, Carlos Prates, Inspetor de Indústria, Minas e Colonização, ao visitar algumas das principais industrias da cidade para analisar seus pleitos, redigiu um relatório, aonde afirma que: “Industrialmente, é esse o mais importante município do estado, e é principalmente por este fato que lhe cabe a primazia entre todos.(...) Ao que me consta, em proporção, é esta a cidade mais industrial do Brasil”.
O relatório de Carlos Prates nos mostra que, por ocasião de sua visita, a cidade já contava com um número elevado de fábricas operando, que contava com mão de obra feminina em seu quadro de funcionários.
Os operários de Juiz de Fora, bem como todo o proletariado brasileiro do começo do século, enfrentavam condições de vida que, pelos relatos da época, mal lhes permitiam sobreviver. As maiores dificuldades estavam na carestia e no problema de moradia.
Houve uma grande organização de comitês e o envio de várias solicitações para a Câmara dos vereadores, pleiteando ajuda no sentido de amenizar impostos, baixar os preços dos bens de primeira necessidade e melhorar as condições de trabalho dentro das fábricas.
Neste momento, a vitória conseguida pelos operários de Belo Horizonte, incita os trabalhadores de Juiz de Fora, e assim no dia 16/08/1912, 300 operários entre tecelões, pedreiros e carpinteiros se declaram em greve pacífica, reclamando a diminuição da jornada de trabalho para 8 horas diárias
A imprensa começa a fazer uma cobertura acirrada dos fatos, o que para nós é de grande valia. O Jornal do Comércio de 28/8/1912 da notícia que, “grevistas impedem a entrada dos trabalhadores numa fábrica de meias e procuram impedir a passagem das moças para o trabalho”
No decorrer desta primeira greve, vários fatos importantes acontecem. Embates com a polícia, piquetes nas portas das fábricas, prisões de manifestas e até a morte de Juvenal Guimarães, funcionário da Cia. Singer.
No dia 30/8/1912, é noticiado que “as operárias da Fábrica de Juta declaram-se em greve, reclamando aumento salarial e redução no horário”
No entanto, as condições de trabalho não melhoram, continuando os operários sofrendo um alto índice de exploração e, algumas vezes passando por humilhações.
Houve então, uma tentativa de organização por parte dos operários de Juiz de Fora. Em reunião realizada no dia 13 de janeiro de 1918, foram discutidas as bases da Sociedade Operária de Juiz de Fora, cujos objetivos eram: unificação do operariado da cidade, organização de uma cooperativa, serviço médico e farmacêutico a preços reduzidos, criação de uma biblioteca, criação de um fundo de reserva, difusão do ensino e educação intelectual e cívica dos operários. Já ficara esclarecido também, que a Associação não vedava a entrada do elemento feminino, pois, sendo ela de caráter beneficente, receberia o apoio de todos os operários, “quer se trate de homens, quer se trate de mulheres, ou mesmo de famílias de proletários”.
Durante a “greve do açúcar”, o jornal O Farol informa que “homens, mulheres e crianças, de quase todas as condições sociais, invadem a casa carregando, durante mais de 1 hora, cerca de 3 mil sacas de açúcar”
A polícia começou á tentar punir os manifestantes e, no dia 29 de agosto daquele ano, alguns soldados espancaram a filha menor do operário João Coelho, no bairro Manoel Honório, por haver-lhes pedido que não prendessem seu pai, em cuja casa não havia sido encontrado nenhum açúcar.
Um outro agente causador das contendas era o alto número de acidentes do trabalho, que feriam gravemente, mutilavam e até mesmo matavam os trabalhadores. Temos notícia do que aconteceu com Isabel Neves, que foi ferida por uma lançadeira no nariz quando trabalhava no tear da fábrica Mascarenhas.
Em 1920, as mulheres representavam 29,6% da mão de obra empregada na industria. eram 2.475 operárias, das quais 2.245 atuavam nos setores “Têxtil” e “Vestuário e Toucador”, e Juiz de Fora era um dos principais centros do comercio atacadista de Minas Gerais, superado apenas por Belo Horizonte .
A greve de 1924 foi causada por esse ter sido um ano de grande elevação do custo de vida no Brasil. Em Juiz de Fora a imprensa alardeia a carestia, conclamando o governo municipal a tomar providencias.O proletariado local entendia que somente que somente o aumento salarial lhe daria condições para superar a situação, enquanto os industriais queriam manter os salários baixos, obrigando assim, os operários s fazerem plantão e aumentando sua margem de lucro .
Neste contexto, no dia 10/06/1924, as operarias da fábrica de tecidos Bernardo Mascarenhas iniciam greve por aumento de salário, há muito pleiteado, intimando os companheiros de trabalhão a segui-las. A polícia toma medidas preventivas. Elas conseguiram o apoio dos carroceiros condutores de matéria- prima para a fábrica Mascarenhas, que se recusaram a fazer o transporte, em solidariedade às operarias. No mesmo dia, operários das fábricas de Tecidos Meurer, Surerus, e Santa Cruz Também aderiram ao movimento e, no fim da tarde já eram 1500 operários em greve.
Em 12/6/1924, se falava em greve geral e um grupo numeroso de grevistas que contava em seu contingente com mulheres e crianças, percorreu várias fábricas com o intuito de obter novas adesões. Várias fábricas aderem à greve e a polícia é acionada.Uma comissão nomeada pela assembléia dos operários, da qual entre outros, faziam parte Olinda Barbieri e Domina de Oliveira, delibera que só voltarão ao trabalho quando tiverem suas reivindicações aceitas. No entanto, os industriais continuam intransigentes.
Em 18/6/1924 noticia-se que as costureiras iriam aderir á greve, o que já era esperado, uma vez que, segundo o Diário Mercantil, “elas trabalham longas horas sujeitando-se a exaustivos serões por um ordenado simplesmente irrisório”.
Neste mesmo dia, operarias vendiam bilhetes para uma sessão de cinema que iria ser exibida em beneficio da Federação Operária para manutenção da greve.
A greve terminou no dia 120/6/1924, após intensas negociações e conflitos. Ainda assim, várias manifestações de apoio aos operários de Juiz de Fora continuaram a chegar, vindas de várias partes do país.

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