quarta-feira, 15 de outubro de 2008

POBREZA



Há algum tempo, quando falávamos em pobres, estávamos nos referindo aos menos favorecidos de nossas cidades ou, quando muito, da nossa região. Hoje a abrangência é maior. Metade da população mundial vive com 2 dólares por dia e, graças a facilidade de comunicação, todo o mundo conhece esta triste realidade.
Como resolver este problema? Dando comida? Se esta fosse a resposta, países africanos que recebem comida vinda do céu (literalmente) estavam salvos. Seria fácil num país como o Brasil, por exemplo, que casa família alimentasse um pobre e resolvesse assim a situação.
No entanto, os pobres estão por toda parte e precisamos nos dar conta de sua existência e não simplesmente ignorar ou ajudar em alguma ação pontual. A expressão “os pobres” provoca, nos paises ricos, o mesmo efeito que nos antigos romanos provocava a expressão “os bárbaros”: confusão, pânico. Eles se empenhavam em construir muralhas e enviar exércitos para as fronteiras para vigiá-los; nós fazemos a mesma coisa de outros modos. Entretanto, a história nos mostra que tudo isso é inútil.
Usamos recursos como vidros duplos para nos isolar da pobreza. Tais vidros impedem a passagem do frio ou do calor, o barulho, atenua tudo, nos dando a sensação de segurança. No entanto, não nos impedem de ver os pobres que atravessam nosso caminho, estão na televisão, nos jornais, nas esquinas de nossa casa ou na porta de nossas igrejas. A imagem do pedinte ou da crinaça que chora de fome já faz parte do nosso dia-a-dia. Já não nos comove mais e pior, não nos indigna mais. Isso me lembra Mandela que temia o silêncio dos homens de bem.
Chega a ser irônica a intensidade da pobreza quando lembramos que no relatório 2000/2001 sobre o Desenvolvimento Mundial dedicado ao tema do combate a pobreza, consta que nunca se produziu tanto e em nenhum momento se aplicou tanta ciência para a produção de bens e serviços e, apesar disso, 2,8 bilhões de pessoas, ou seja, quase metade da população mundial, vivem com menos de 2 dólares/dia.
No Brasil, grande celeiro do mundo, o BIRD, trabalhando com dados oficiais do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estimava em 2002 o número de pobres em 54 milhões, dos quais 22 milhões eram indigentes.

Vendo estes dados, eu espero que surja novamente em nossas almas a indignação e que ela se transforme em ações concretas, como respeito e tratamento digno para os pobres.
O respeito para com os pobres pode começar com o fim do preconceito contra eles que são sistematicamente preteridos, no serviço público ou na vida em geral e reconhecer sua dignidade numa sociedade globalizada não respeita de uma forma geral a dignidade da pessoa, mas o seu potencial de compra.
Talves fique mais fácil respeitá-los se o virmos como relamente são: heróis da resistência. Eles vivenciam a humanidade em situações limite e vão ao fundo nas capacidades do ser humano. No entanto, não basta simpelsmente dar esmola, ticket, comida, bolsa escola ou família. É preciso criar condições para que os excluídos se tornem cidadãos.


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