quinta-feira, 16 de julho de 2009

ESSE ASSUNTO DE NOVO!



Eu ainda não vou falar sobre Sartre. Mas vou citá-lo uma vez mais: a morte é ridícula!
Hoje pela manhã estava saindo para o trabalho, quando me encontrei com a síndica do meu prédio. É uma senhora com mais de 70 anos, mas uma vitalidade e energia que dão inveja em muita gente.
Tão logo me viu, ela veio me contar a triste notícia: seu marido faleceu na última sexta-feira. É sempre tão embaraçoso lidar com a morte! Meu primeiro impulso foi o de abraçá-la e mostrar a minha solidariedade. Não o fiz. Como eu detesto ter absorvido certas convenções sociais que nos censuram. Bom é ser espontâneo, dizer que ama ou odeia, abraçar e demonstrar afeto, solidariedade, humanidade, na hora em que queremos, sem ter medo do que os outros vão dizer ou pensar. Mas naquele momento, eu não consegui. Fiquei devendo o abraço.
A sombra dessa morte veio comigo pro trabalho. Eu vi pouco o senhor, cujo nome eu desconheço. Só sei que ele era bem idoso e subia vagarosamente com passos leves a escada do prédio. Na última vez que o vi, o ajudei com algumas sacolas. Ainda assim, me assusta a idéia de que nunca mais vou ouvir seus passinhos. Nunca mais a minha síndica vai me contar como anda a sua saúde, como ele é teimoso pra tomar remédios e fazer repouso. Nunca mais ele vai abrir a porta de casa ou dirigir seu gol branco. Nunca mais seu filho vai lhe pedir benção.
Esse é o grande ridículo da morte; a idéia do nunca mais. A gente acorda todos os dias, trabalha, estuda, busca evoluir, ser uma pessoa melhor, manter um bom nome, dar bons exemplos, viver com retidão, conseguir uma casa melhor, um emprego melhor, manter os amigos, ser fiel a causas e a pessoas. Um belo dia, a gente não acorda mais. Alguns ultrapassam os tempos através de livros escritos, músicas, ou história. A maioria, se tiver sorte, vai ser lembrada pelos netos ou por algumas histórias de família. E só!
Eu não gosto dessa idéia. Pensar que quando eu não estiver mais aqui novas músicas vão surgir, a ciência vai descobrir milhares de coisas interessantes, livros serão escritos e eu vou estar esquecida e não vou saber de nada disso,mais do que me apavorar, me indigna.
Só que eu nada posso fazer. Assim, vou continuar a jornada enquanto ainda posso. Hoje eu vou à missa do marido da minha síndica. Quem sabe ainda não dá tempo pro abraço?

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa história de ter medo do que a sociedade vai pensar da gente é complicada mesmo. Eu que o diga!
Mas achei linda a sua sensibilidade. Coisa de gente especial!

Igor

Anônimo disse...

Juliana, o que mais me intriga é a questão da transitoriedade. Nascer, crescer, viver um pouco , sumir e tchau...Talvez nem a síndica fique sabendo,pois alguem vai continuar a pagar o condomínio.
Como você diz, ainda não temos como mudar isso... Lá vamos nós "de fusca Branco" sem saber o caminho para onde e sem deixar rastro.
Luiz