sábado, 19 de dezembro de 2009

HARIS NO R7

Na entrevista que meu amigo Haris deu ao R7 no último dia 03, podemos entender um pouco mais sobre o que ocorre no seu lado do mundo.



Pesquisador do Paquistão elogia plano de Obama e vê ameaça real da Al Qaeda no país.

Haris Gazdar afirma que presidente americano adota estratégia inteligente

O cientista social e economista paquistanês Haris Gazdar afirmou nesta quinta-feira (3) que a real organização da rede terrorista Al Qaeda está no Paquistão. Gazdar, que comanda o centro de estudos internacionais Collective for Social Science Research, em Karachi, no Paquistão, comentou em entrevista ao R7 alguns pontos da proposta apresentada pelo presidente dos Estados Unidos na última terça-feira (1º), que prevê o reforço de 30 mil militares às tropas que já estão no Afeganistão.
Ele disse que Obama adotou uma estratégia inteligente, ao tentar estabilizar o Afeganistão sem tirar o foco do Paquistão, onde está boa parte das raízes dos problemas da segurança e das ameaças terroristas na região.
O anúncio, que citou o Paquistão e pediu a colaboração do país, provocou reação do governo paquistanês. Hoje, a rede CNN informou, a partir de Islamabad, que membros do governo demonstraram mais preocupação do que alívio com o envio de mais americanos para o vizinho Afeganistão, o que poderia levar a uma fuga de terroristas para o país. Com o reforço, o número de americanos ficará próximo de 100 mil.

Hoje, em visita ao Reino Unido, o primeiro-ministro do Paquistão, Raza Gilani, disse em resposta a uma insinuação do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, que Osama bin Laden não está em seu país.
Gazdar estudou na London School of Economics (LSE) e trabalhou no Centro de Estudos da Ásia do LSE. Foi professor de economia na Universidade de Sussex, na Inglaterra. Também realizou trabalho acadêmico na Índia, na Escola de Economia de Nova Déli.

Leia abaixo trechos da entrevista com o pesquisador:

R7 – Alguns americanos, especialmente os democratas, como o representante [equivalente a deputado no Brasil] Elliot Engel,afirmam que o verdadeiro problema de segurança está no Paquistão. Os EUA também ajudam o país a combater os radicais islâmicos. O senhor acredita que é necessário, como muitos defendem, um envolvimento mais efetivo no Paquistão do que no Afeganistão?

Haris Gazdar – O principal problema de segurança vem do Paquistão. Isso porque o Paquistão é relativamente mais desenvolvido, e seus militares estiveram historicamente ligados a militantes jihadistas. O 11 de Setembro não poderia ter acontecido sem o Paquistão. O Afeganistão foi apenas o lugar onde a liderança da Al Qaeda estava vivendo. O Afeganistão é um país muito pobre sem a possibilidade de sustentar uma organização global sofisticada. A maior parte da logística e do financiamento passam pelo Paquistão. Estes elementos eram conhecidos, mas o fato de que os EUA não levaram a maior parte dos acusados pelo 11 de Setembro para julgamento significa que eles não eram publicamente reconhecidos. O Paquistão também é visto como uma fonte mais importante de ameaça à segurança porque seus militares têm armas nucleares.
R7 – O plano apresentado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, agrada ao senhor?

Haris Gazdar - A estratégia de Obama é muito inteligente. Ela tem como base o entendimento de que o Afeganistão em si é somente uma ameaça de segurança limitada. Ele quer estabilizar o Afeganistão, mas realmente foca no Paquistão. No Paquistão, querem fazer duas coisas que dividem a sociedade paquistanesa. A primeira é que querem que os militares mudem sua política de confrontar a Índia. A segunda é que querem mais controle civil sob os militares. Claro que os militares e seus aliados na sociedade civil estão resistindo a isso, mas eles também estão cientes de que o Paquistão precisa da ajuda dos EUA. Outras forças políticas dentro do Paquistão apoiam estas posições, mas são frágeis em termos de controle da imprensa e da propaganda.

R7 – O senhor acha que o envio de mais tropas americanas pode gerar uma migração para o Paquistão de rebeldes e também de pessoas com medo de um conflito mais duro? Isso pode gerar uma outra crise?

Gazdar - A fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão é relativamente aberta para a passagem das pessoas. Eles vão e vêm. É verdade que uma escalada da guerra levará a mais migração, mas esta não é a maior preocupação. O mais preocupante é que se os americanos falharem em dar segurança e estabilizar o Afeganistão, isto terá efeitos de longo prazo.

R7 – A violência no Paquistão parece ter aumentado após o governo iniciar a ofensiva militar no Waziristão do Sul. O mesmo poderia acontecer no Afeganistão com o reforço da ofensiva americana?

Gazdar - A violência pode aumentar, mas não apenas por causa da ação americana. A principal questão aqui é que os EUA querem que os militares do Paquistão parem de proteger vários militantes jihadistas, e que desmantelem suas organizações. Se os militares fizerem isto, haverá mais reações do jihadistas. No momento as pessoas apoiam a ação militar contra os jihadistas. Se os jihadistas fazem mais ações violentas, o apoio irá aumentar. No passado, os militares usavam a desculpa de que havia oposição popular para desmantelar as organizações jihadistas. Hoje esta desculpa não é mais aceita, a opinião pública está agora contra os militantes jihadistas, apesar de todos os esforços da poderosa mídia de extrema direita.

R7 – O governo de Karzai também terá de recrutar mais tropas entre os afegãos. Há estrutura lá para atrair, treinar, alimentar e equipar todos estes novos soldados?

Gasdar – Eu não sei muito sobre a situação interna no Afeganistão, mas o governo lá é fraco. Eu acho que a estratégia dos EUA no Afeganistão é limitada, apesar de que todo mundo vai falar do aumento de tropas. Os EUA tentarão estabilizar o Afeganistão e esperam um governo mais forte, mas eu não acho que eles irão se preocupar muito se o governo afegão continuar fraco. Não é crítico para a segurança interna deles [dos EUA]. A principal ameaça de segurança é de elementos no Paquistão que sustentam a Al Qaeda.

Nenhum comentário: