terça-feira, 30 de setembro de 2008

A CRISE FINANCEIRA

Do Blog da Lúcia Hipólito


As eleições nos Estados Unidos contaminam as propostas de solução para a crise – e são contaminadas por ela.
O pacote de 700 bilhões de dólares para o resgate do sistema financeiro está sendo, até agora, rejeitado por razões diferentes.
Um olho no peixe e outro no gato.
Os republicanos rejeitaram o primeiro pacote de olho na campanha de McCain, mas principalmente de olho em seus distritos eleitorais, pensando nas eleições de novembro, quando os deputados terão que renovar seus mandatos.
Alguns ainda se referiram aos efeitos maléficos de uma estatização do sistema financeiro americano. Enxergam sinais de “socialismo”, como afirmou um deputado do Texas.
Os democratas, por sua vez, votaram majoritariamente a favor, também de olho na renovação de seus mandatos, mas preocupados com o passivo que Obama poderá herdar – isto é que é herança maldita.
O mais preocupante é o vazio de liderança nos Estados Unidos. Os dois candidatos não podem tomar a frente do processo, sob pena de serem acusados de “sentar na cadeira antes da hora”, ou seja, de usurpar uma atribuição que é do presidente em exercício, não de candidatos a presidentes.
E o atual presidente, George W. Bush, que já era considerado o pior presidente da história americana antes da crise, agora, então...
Em fim de mandato, sem as mais mínimas condições de liderar o país no meio da tempestade, Bush perdeu inteiramente a confiança do cidadão americano.
Em outros países, presidentes vêm assumindo a liderança do processo. Agora mesmo, o presidente Nicolas Sarkosy está reunido no Elysée com os principais banqueiros e seguradores da França, para mapear a crise e discutir propostas de solução.
Numa crise como essa, é fundamental manter abertos os canais de confiança entre o cidadão e o governo, para evitar corridas bancárias, corridas a supermercados, e outros movimentos que contribuem para disseminar o pânico.
O Brasil saneou seu sistema financeiro através do Proer, programa realizado durante o governo Fernando Henrique. Hoje os bancos brasileiros estão submetidos a regras muito mais severas do que os bancos americanos, por exemplo.
Além disso, desde o início do primeiro mandato do presidente Lula, o Banco Central vem comprando quantidades substanciais de dólares, fortalecendo as reservas cambiais brasileiras.
Estas duas medidas prepararam o país para enfrentar o tranco em melhores condições de saúde financeira.
Outra boa notícia é que, finalmente, parece que caiu a ficha, e o governo brasileiro começa a demonstrar preocupação com os desdobramentos da crise e seu possível impacto no Brasil.
Por que é uma boa notícia? Porque, tão danoso quanto espalhar o pânico é adotar uma atitude olímpica, como se o Brasil fosse o país escolhido pelos deuses para passar incólume.
A hora é de muita atenção e sintonia final. Não dá para brincar.

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